27 de nov. de 2008

LUZES FRIAS


As luzes da cidade
ainda estão acesas.
Mas a chama na alma
de cada um de seus habitantes
já se apagou.

Como é difícil ver uma luz
em meu caminho!
Mas se ainda houver uma fagulha,
lutarei.
E enquanto lutar
permanecerei vivo.
No fim a morte
iminente e inevitável.

A morte.
O fim.
O nada.

As luzes da cidade
já se apagaram.
O sol se ergue
sobre a população fria.

Ele também terá o seu fim.

18 de nov. de 2008

AMAR FALHAR


Superfície
onde ondas
vêm
amorfanhar,
sentem
amachucar
quando ordem vem
gorar (amargurar).

Crispas ondas,
amarfalhar.
O mar
falha
ou
fala
(amarfalar)
ao mar

17 de nov. de 2008

POEMA NÁUTICO


Abordar a vida,
reviver a bordo.
Transbordar,
por essas muradas,
no mar sombrio.

Penetrar no nada
em um tempo infinito,
em um grito,
em silêncio.

Cruzando estas águas
frias,
transbordo pela paisagem
que não posso tocar.

13 de nov. de 2008

PAPEL


O papel, de qualquer forma
é sempre um amigo,
é sempre um caminho,
é sempre um alento
e eu tento

Em seu espaço branco
a mácula negra
da tinta, do risco
(rabisco)

Impressiona,
penetra e expõe,
impõe seu fascínio
(objeto de ascenso
e declínio)
que preenche,
embora vazio

Espectro


O espectro eletromagnético
está congestionado
na Avenida Paulista

O ético e o intelecto
foram postos de lado
nesta pista

Eu deslizo
em meu carro novo,
acima do mundo,
muito além do povo

O elétrico e o eclético
não me tornam menos cético,
nem preenchem esse vazio.
Frio e congestionado
como o espectro,
todo ocupado

Olhos vazados me observam,
antenas atentas se elevam
E todos os movimentos
são elementos
do mesmo jogo

Sou um estorvo.
Porque em mim
a regra não pega

Pela minha cabeça
cruzam sinais,
interferências
e a tudo observo

pasmo...

Sombras Ruídas



Sombras se movem
nas ruínas vazias.
Nas ruínas paradas,
movem-se sobras perdidas.
Dançam escondidas
ao som do silêncio vago.

Caem-se os pedaços
das inúteis ruínas.
Sinuosos, pernas e braços,
movimentos de sombras frias.
Delicados, ágeis, suaves
insinuam-se sem sentido.

No escuro vultos e sombras.
No escuro colunas, paredes.
O caminho está lá,
entre os caminhos.
Mas não se pode distinguir,
nos escapa.
Ou não há caminho...

Escuras ruínas, sombras.
Nada antes ou depois...
Como fosse tudo perfeito.

ORIGEM


Do sonho fêz-se a força
e da força fêz-se a célula
e a célula fêz-se de sí mesma,
em milhares de múltiplas formas.

Entre todas essas formas
surgiu o núcleo
e do núcleo surgiram os olhos
que observam.

Pelas poderosas lentes
oriundas da força
os olhos observam
da célula surgir a dor
através do silêncio.

Pelos milhões de anos
que se seguiram
o silêncio foi o maior
dos poderes.
E a dor percorreu os seres.

Até que os olhos despertaram
e da célula fêz-se o sonho,
como antes havia sido.
E o sonho tocou os seres
remetendo a dor
de volta ao silêncio.

Câmara Escura



Um grito,
ouví seu grito
e agradeço pela sua voz...

Um toque,
sentí seu toque
e agradeço por ser suave...

Neste local escuro
não sei o que me acompanha,
a não ser você.
E nem sei como você é...

Um cheiro,
sentí seu cheiro
e agradeço por estar próximo...

Tão doce !
Sentí seu gosto
e agradeço pelos seus lábios...

Agora não tenho mais medo,
embora continue iminente
o perigo.
Tão próximo quanto você.
Talvez você...

Agradeço

Palavras são lavras


Palavras são lavras
Aradas ou não
Ar solto a golfadas
Ou grafadas à mão

Palavras são lavras
Semeadas ou não
São meadas da mente
Direto do coração

Palavras são lavras
Cultivadas ou não
Cultas, altivas falas
Ou grosseira agressão

Palavras são lavras
Colhidas ou não
Escolhidas a dedo
Ou lançadas em vão